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Mostrando postagens de março, 2025

O Cotidiano Sem Ele

 O tempo passou, mas ainda ecoa o som da chave girando na porta, o riso fácil no final da tarde, o cheiro do café coado por duas mãos que sabiam esperar. O cotidiano sem ele é feito de silêncios que antes eram preenchidos por conversas bobas, conversas sérias e risos, comentários sobre o tempo, planos para o fim de semana. Agora o tempo corre de outro jeito, mais lento em alguns dias, mais duro em outros. Os objetos continuam no lugar de sempre, mas perderam a alma. A xícara preferida, a poltrona gasta, o livro deixado aberto na estante – tudo parece esperar um retorno que não virá. E mesmo assim, há beleza em continuar. Há coragem em manter as flores vivas, em abrir a janela toda manhã, em preparar o almoço com uma pitada de saudade e lembrança. O cotidiano sem ele não é ausência completa – é presença transformada. Ele vive nos gestos que aprendi, nas palavras que me ensinou, nos silêncios que agora também são meus. O amor, mesmo sem corpo, segue sendo abrigo. E a vida, com to...

O Último a Sair Fecha a Porta

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Houve um tempo em que os dias eram longos e os sonhos, tão vastos quanto o horizonte. Clara e Miguel se encontraram num desses inícios de tarde, quando o sol pintava o céu com cores quentes e promessas silenciosas. Juntos, eles construíram um mundo repleto de planos, risos e a certeza de que, enquanto estivessem lado a lado, não haveria tempestade capaz de os derrubar. No começo, cada manhã trazia uma nova descoberta: conversas profundas enquanto compartilhavam o café, a cumplicidade nas pequenas tarefas diárias e a sensação de que cada gesto, por mais simples que fosse, era um tijolo na construção de uma vida em comum. Eles sonhavam alto, imaginando uma casa cheia de luz, viagens que os levariam a recantos inesperados e um futuro onde o amor se renovava a cada amanhecer. Mas, com o passar dos meses e anos, o que outrora fora puro e intenso começou a se transformar. As rotinas, antes cheias de magia, passaram a carregar o peso dos dias repetitivos. O calor dos sorrisos foi se substitui...

Na Chuva

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A chuva caía densa sobre a Avenida Paulista, transformando as luzes da cidade em reflexos borrados e multicoloridos. Em meio ao movimento frenético das pessoas, uma mulher andava devagar, os olhos sem direção, como se o mundo ao redor não passasse de um cenário embaçado. Era sempre na chuva que ela encontrava o lugar para seu lamento. Ali, ninguém podia distinguir as lágrimas da água que escorria pelo seu rosto. Júlia havia dedicado anos de sua vida a um homem que, pensava ela, lhe seria grato, fiel e verdadeiro. Vinha de uma família próspera, e, movida pelo amor, quis compartilhar o que tinha com ele. Para Pedro, proporcionou uma vida confortável, viagens, a casa aconchegante e tranquila que ele sempre desejou – ou assim dizia. Porém, em uma manhã fria e seca, ele foi embora sem aviso, sem uma explicação razoável, deixando Júlia perdida, com o coração estilhaçado e a sensação de que havia sido apenas uma peça num jogo cruel. Aquele homem que ela amava se tornara uma sombra de ingratid...

Debaixo do Mesmo Teto

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A casa ficava na Rua das Laranjeiras 112. Uma casa simples, térrea, com varanda de cimento e um portão que rangia cada vez que alguém entrava ou saía. Era fácil saber quando alguém chegava. Mas, verdade seja dita, ninguém chegava ali com frequência. A vida naquela rua era mansa demais para surpresas. Pedro acordava todos os dias às 6h15, sem alarme. O corpo já sabia a hora. Caminhava até a cozinha, coava o café no pano, pegava o pão amanhecido da véspera e o cortava com pressa, quase sempre fazendo farelos no chão. Lúcia já estaria levantando os meninos, Henrique e Davi, de sete e dez anos, respectivamente. O mais novo protestava, o mais velho só resmungava. Era sempre assim. - Eles precisavam dormir mais cedo – dizia Pedro, toda manhã, sem convicção. - E você precisa ajudar mais à noite- respondia Lúcia, sem levantar os olhos do pão que agora torrava na frigideira. Eles se cruzavam pela cozinha como se fossem trilhos de trem: paralelos, eficientes, previsíveis. Dividiam tarefas, preoc...

Somos Oceano

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Há uma imagem bela plena e serena que li de um mestre budista, e que tem me acompanhado desde então. Ele dizia que, ao nascermos, somos como gotas que borbulham do oceano. Essa imagem me tocou fundo. Pensei em como, ao surgir à vida, parecemos algo novo, separado, com forma própria. Uma pequena gota de existência, distinta do imenso mar. Recebemos um nome, um corpo, um caminho. E a partir daí, passamos a acreditar que somos apenas isso: uma individualidade, um contorno, uma história isolada. Vivemos assim. Tentando provar que existimos. Tentando durar. Tentando resistir ao vento, à evaporação, a dor de ser tão pouco diante de tanto. Tentando controlar o mar que nos habita. E então chega o tempo da partida. O corpo cansa, a forma começa a se desfazer, e a gota retorna. Mas não como fuga – como reencontro. Quando morremos, diz o mestre budista, não desaparecemos. Voltamos ao oceano. E nesse retorno, percebemos algo essencial: nunca estivemos realmente fora dele. A ideia de ...

"Hoje, eu Preciso de Você"

“Hoje, eu preciso de você com qualquer humor. Com qualquer sorriso”, mesmo aquele que vinha depois de um dia difícil, meio torto, mas ainda assim cheio de vida. Hoje, eu não peço perfeição, não peço grandes feitos. Só peço presença. Só queria que você ainda estivesse aqui. Há dias em que a saudade pesa mais do que o tempo. Em que a ausência grita em cada pequeno silêncio da casa, em cada detalhe do dia. E é nesses dias que eu mais percebo: sua presença era meu lugar seguro. Seu jeito, seu riso, até suas manias... tudo isso fazia o mundo parecer mais habitável. Vivemos tempos em que tudo passa rápido demais. E você passou. Ainda que tenha deixado tanto de si — memórias, ensinamentos, um amor que não morre —, passou. E hoje, mais do que nunca, eu sinto: a falta de alguém amado não se mede em dias, meses ou anos. Se mede na intensidade do que foi vivido, e no vazio que ficou. A canção do Jota Quest me atravessa como faca e afago: "Hoje, eu preciso de você" . Sim, preciso. ...

O Presente

 Ninguém sabia, mas havia um lugar na casa onde a dor se vestia de silêncio e a saudade parecia adormecer. Era o quarto que ele lhe deixou — não apenas com as paredes recém-pintadas, os móveis escolhidos com cuidado ou os detalhes que carregavam a memória de suas mãos — mas com o amor que resistia ao tempo e à ausência. Foi o último presente que recebeu dele. Um gesto que parecia simples aos olhos do mundo, mas que continha tudo o que importava: cuidado, ternura, presença. Ele pensou em cada canto, em cada cor, como se dissesse, sem palavras, “aqui você vai se sentir protegida”. E, de alguma forma misteriosa, é ali que ela sente proteção. É naquele espaço que a ausência se torna presença sutil, como um perfume antigo que ainda paira no ar. O lugar em que o peito se alivia, onde as lembranças não machucam tanto. Ali, as lágrimas vêm mais brandas, e a saudade dói menos. Não porque ela tenha partido — a saudade permanece — mas porque, naquele quarto, ela é acolhida. Ali, ela rep...

Somos Células Fundidas

Toda existência humana começa com um ato de fusão. Duas células, vinda de corpos distintos, se encontram e se tornam uma. Dessa unidade primordial, multiplica-se uma sinfonia de divisões e especializações, um organismo se constrói em silêncio, obedecendo a um roteiro invisível e inexorável. Do um ao muitos, do indivisível ao diverso, nos tornamos o que somos: um sistema coordenado de células que coexistem, trabalha e se renova, um equilíbrio dinâmico que nos mantém em movimento. A complexidade que nos habita é um paradoxo. O ser humano, sem retirar o mérito de qualquer outra forma de vida, é uma máquina de precisão incomparável. Cada célula cumpre sua função com disciplina absoluta, sem saber que faz parte de algo maior. Os neurônios, que transportam nossos pensamentos, sentimentos e memórias, também estão sujeitos ao colapso. Ironia da existência: quanto mais complexo é um sistema, mais vulnerável ele se torna. A estrutura que nos faz pensar, criar e imaginar também nos faz suscetív...

A Idade Que Nos Escapa

Outro dia, ouvindo um podcast, fui surpreendida por uma ideia que, à primeira vista, parece absurda: nem da nossa própria idade somos donos . Pensei que tinha entendido errado, mas, ao longo da conversa, percebi que fazia todo o sentido. Sempre contamos a idade somando anos, comemoramos aniversários e nos preocupamos com o número crescente que marca nossa passagem pelo tempo. Mas essa é apenas uma convenção, um registro que olha para trás. E se a idade real não for a que já vivemos, mas sim o tempo que ainda nos resta? Se pensarmos assim, a lógica se inverte. A idade que carregamos no peito – aquela que dizemos orgulhosos ou temerosos – não nos pertence mais. Já foi. O tempo que passou não volta, e não temos qualquer poder sobre ele. O que realmente nos pertence é o que ainda está por vir. Nossa verdadeira idade não é a que aumenta, mas a que diminui, dia após dia. O curioso é que ninguém sabe ao certo qual é essa idade real. O tempo que nos resta é um mistério, um segredo que a ...

O Melhor de Nós

Nós dois nunca fomos perfeitos. Sequer beiramos a perfeição. Mas, de alguma forma, juntos, conseguíamos encontrar uma harmonia singular, um encaixe que não vinha das semelhanças, mas das ausências preenchidas um pelo outro. Desde o primeiro encontro, percebi que você era diferente de tudo o que eu esperava. E, talvez, isso tenha sido o motivo pelo qual me apaixonei. Enquanto eu era tempestade, você era brisa leve. Enquanto eu colecionava silêncios, você bordava palavras no ar. E, aos poucos, entre altos e baixos, fomos aprendendo que amor não se sustenta apenas no encanto, mas na construção paciente do dia a dia. Houve dias em que quis partir. Dias em que você se fechou em si mesmo, e eu me senti sozinha dentro do nós. Mas entendi que amor não é sobre nunca querer ir embora. Amor é encontrar razões para ficar, apesar das tempestades. Os anos foram passando e nos transformamos. O que um dia foi paixão ardente se tornou cumplicidade serena. O que um dia foi impetuosidade se tornou ...

Sonhos na Maturidade: O que fazer quando não se realizam..

Os sonhos nos mantêm vivos. São eles que nos impulsionam, nos desafiam, nos fazem levantar a cada manhã com um propósito. Lutamos para concretizá-los, muitas vezes contra o tempo, contra as dificuldades da vida, contra as limitações que o próprio corpo nos impõe. Mas, inevitavelmente, chega o momento em que percebemos que alguns sonhos jamais se tornarão realidade. E então, o que fazer com eles? A sociedade, em sua cegueira crônica, parece não entender que dentro de cabeças maduras ainda existem desejos, projetos, ânsias de realização. Existe uma crença silenciosa de que, com o passar dos anos, deveríamos nos conformar com a calmaria da velhice, aceitar a quietude como um prêmio de consolação. Mas há aqueles que recusam essa imposição e seguem vibrando na frequência da juventude, alimentando a alma com sonhos que talvez nunca venham a se concretizar, mas que, mesmo assim, os fazem sentir vivos. O que acontece, então, quando esses sonhos encontram barreiras intransponíveis? Alguns e...

Tempo: Entre a Realidade e a Imaginação

Vivemos em tempos de cobrança. A todo instante, somos pressionados por expectativas que nos cercam, seja no trabalho, na vida pessoal ou nas redes sociais. A tecnologia nos deu voz, permitiu que opiniões circulassem livremente, mas também nos expôs a um constante tribunal da opinião alheia. Diante desse cenário, muitas vezes nos recolhemos em nossa solidão, encontrando nas redes a ilusão de companhia, um consolo momentâneo para a inquietação da alma. O tempo, sempre ele, parece ser a chave para discernirmos entre o que é medo e o que é apenas ansiedade. Mas o tempo que vivemos nunca é um tempo real. Ele se esvai entre promessas e incertezas, entre esperanças e desilusões. Não podemos tocá-lo, apenas senti-lo passar. E, no entanto, dependemos dele para compreender se nossas angústias são justificadas ou apenas frutos da nossa imaginação. Nem tudo o que pensamos se torna fato verdadeiro. Nossa percepção do mundo é influenciada por emoções, crenças e experiências pessoais. O que hoje ...

O Que Fazer Com Essa Saudade?

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Dizem por aí que a saudade passa. Que, com o tempo, ela se transforma — em lembrança, em memória serena, em aceitação. Dizem que ela suaviza as bordas, que deixa de ser grito e vira sussurro. Que se acomoda num canto do peito como um visitante que não incomoda mais. Mas… e quando isso não acontece? E quando a saudade ainda arromba a porta do coração e se instala no centro do peito, exigente, feroz, doída? Quando ela pulsa com tanta força que parece ter vontade própria — como se quisesse gritar o nome de quem partiu para dentro do mundo? Escrevo. Pinto. Caminho, Converso. Tento distrair a mente, fazer o corpo cansar antes da alma. Mas ela, a saudade, não se cansa. Permanece. Vigia cada instante de silêncio, se esconde por trás de cada música, de cada cheiro, de cada frase que me escapa: “quando eu contar pra ele...”, “quando a gente se encontrar...”, “ele vai adorar isso…” Mas não vai. E não vamos. E é aí que a saudade crava seus dentes mais afiados. O que fazer com essa saudade que não...

O Amor Trabalha ao Lado

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Marietinha era da pá virada. Gostava de samba, cerveja, noitadas e, principalmente, de namorar muito. Com cinquenta anos bem vividos, como dizia, só se arrependia de uma coisa: não ter namorado uma mulher. Ultimamente, havia encasquetado com essa ideia… queria saber qual era a sensação. Marietinha era evoluída, achava a vida bela e nunca se fixava em um amor. Dizia que o melhor amor era sempre aquele que estava por vir. — O tempo é curto, não se pode desperdiçá-lo... blá, blá, blá! Então, tá! Essa era Marietinha… que, por sinal, nunca entendeu o "inha", já que era um mulherão. Jussara era a esquisita do trabalho, "vizinha" de mesa de Marietinha. Consideravam-na a chatinha do escritório, e dela nada se sabia. Podia-se dizer que Jussara era moça fina" e fria. Vestia-se diferente de todas as outras, sempre com terninho escuro de saia justa, meia preta, salto alto e cabelo preso em coque, o que lhe conferia um ar sisudo e de pouca conversa. Desde que Marietinha enc...

A Melhor Amiga Que Sempre Esteve Lá

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Alice era uma mulher de 34 anos, apaixonada por livros e por longas caminhadas nas manhãs ensolaradas. Sempre introspectiva, carregava um misto de serenidade e mistério. Aos olhos do mundo, Alice parecia levar uma vida comum. Trabalhava como bibliotecária em uma pequena cidade, gostava de cozinhar e cuidava de um gato chamado Sebastian. Mas, dentro dela, existia um universo inteiro de diálogos, ideias e descobertas que compartilhava com sua melhor amiga: ela mesma. Desde pequena, Alice tinha o hábito de conversar consigo mesma. Enquanto outras crianças formavam amizades no parquinho, Alice se sentava sozinha sob uma árvore, entretida em um debate interno sobre o céu, as nuvens ou os contos de fadas que havia lido. No começo, seus pais ficaram preocupados, mas, ao perceberem que Alice estava feliz e saudável, passaram a encarar isso como parte de sua singularidade. Na adolescência, o mundo interno de Alice se expandiu. Era como se houvesse outra versão dela, uma amiga sábia, espirituosa...

Café de Gratidão

Nosso café da manhã era um ritual de amor, um instante sagrado em que o mundo lá fora cessava sua pressa para nos permitir existir apenas um para o outro. Não importava o que havia na mesa – poderia ser pão com manteiga ou a mais fina iguaria - porque o verdadeiro banquete era a forma como ele me olhava, a delicadeza com que preparava cada detalhe, o zelo quase reverente com que transformava cada detalhe, o zelo quase reverente com que transformava gestos simples em provas incontentáveis de amor. Ele sempre acordava primeiro. Era seu presente silencioso para mim. Enquanto eu ainda flutuava entre os sonhos, ele já estava ali, cuidando para que o dia começasse envolto em ternura. O café fumegante, as frutas cortadas com precisão, o pão aquecido na medida certa...E, além da mesa posta com carinho, havia a cena que mais me encantava: ele alimentando os pássaros, dividindo com eles essa paz que cultivávamos juntos. Hoje, o café da manhã é outro. O ritual perdeu sua metade mais preciosa. O s...

O Olhar da Primeira Vez

Vivemos tempos em que tudo parece já ter sido dito, escrito, assistido. Tempos em que a novidade se dissolve na velocidade das redes, e o encanto se perde na repetição. Para muitos, já não há surpresas: histórias se repetem, amores vêm e vão, a vida e a morte se sucedem como capítulos de um livro que já folhamos tantas vezes. E, no entanto, há sempre alguém para quem tudo é a primeira vez. Um olhar que descobre, uma mente que absorve, um coração que se emociona. Para cada um que já viu, há outro que ainda não. Para cada história antiga, há uma alma jovem que a lê como se fosse única. As crianças anseiam pelo saber, pelas descobertas que para nós são banais. O primeiro voo de um pássaro, a mágica de uma estrela cadente, o som das ondas quebrando na areia. Para nós, rotina; para elas, deslumbramento. O mundo não gira ao nosso redor. A graça não se perdeu — apenas esquecemos de vê-la. Talvez o que nos falte seja reaprender a olhar. Olhar como se fosse a primeira vez, como se o tempo não t...

A Última Estação

As estações do ano desenham o ciclo da vida com a precisão de um relógio natural. A primavera explode em cores e renascimentos, o verão resplandece em plenitude e vigor, o outono sussurra a transitoriedade em tons dourados, e o inverno nos convida ao recolhimento, à introspecção e ao silêncio. Assim como a natureza, também nós atravessamos nossas próprias estações. Na infância, somos primavera – brotos de esperança e descobertas. Na juventude, queimamos como o verão, intensos, audaciosos, ávidos pela luz. O outono chega com a maturidade, quando aprendemos a valorizar cada folha que cai, cada ciclo que se fecha. E então, o inverno se aproxima, trazendo consigo a última estação – aquela em que nos permitimos o descanso, o remanso e a contemplação do que ficou para trás. Mas o inverno da vida não precisa ser apenas um adeus. Pode ser um tempo de memória, de aconchego, de histórias contadas à beira do fogo, de gestos que deixam marcas no caminho para quem ainda virá. Afinal, a última e...

Preguiça de Mim

Tem dias que eu canso de mim. Mas não é um cansaço profundo, desses que pedem um repouso, uma pausa restauradora. É um cansaço diferente, uma fadiga da própria existência cheia de exigências absurdas. Uma preguiça da minha própria voz interna que cobra demais, que nunca está satisfeita, que insiste em um ideal que não é meu, mas que, de tanto me sussurrar, acabei acreditando. A gente se acostuma a se olhar como um projeto inacabado. Como se houvesse sempre um conserto a fazer, uma melhora urgente, uma versão mais polida e apresentável de nós mesmos. "Esse cabelo precisa de um corte." "Essa pele precisa de um creme." "Esse corpo precisa de uma dieta." E assim a vida vai se tornando uma longa lista de reparos, como se fôssemos uma casa antiga que nunca está boa o suficiente para receber visitas. E a idade? Ah, a idade é um capítulo à parte. É um teatro de expectativas que nunca se alinham ao que a gente realmente sente. Se somos jovens, precisamos parecer ma...

A Música Que nos Traduz

Houve um tempo em que a música falava. Não apenas sussurrava ao fundo de uma melodia apressada, mas contava histórias, bordava sentimentos em notas suaves, pintava saudades com acordes e memórias. As canções eram poemas musicados, cada palavra encaixada como um verso vivo, capaz de atravessar gerações e ainda assim permanecer. A melodia vestia-se de poesia, o amor dançava nas entrelinhas, e até a dor encontrava harmonia nos versos que curavam as feridas. Cantava-se o tempo, a espera, o abraço, a fé que sustenta, o adeus sem cansaço, a estrada aberta, o vento no rosto, um grito de vida em cada compasso. A música era ponte entre almas, refúgio para os dias cinzentos, celebração das alegrias simples. Mas os tempos mudaram, e com eles, a pressa chegou. Os versos se tornaram descartáveis, as rimas perderam-se na ventania, as palavras flutuam vazias, sem peso, sem pele, sem alma, sem cor. O que antes era sentido, agora se dissolve em repetições previsíveis e batidas calculadas para durar ape...

Você Reverbera em Mim

Há momentos em que o amor transcende o tempo e o espaço, onde o sentimento se transforma num eco que se propaga silenciosamente, mas com intensidade redobrada. É como se, quando uma pessoa se despede, ela não se afastasse de verdade – seu ser se dilui, transformando-se em cada gesto, cada suspiro, em cada recanto da nossa existência. No instante em que os olhos se tornam os espelhos da alma, e a boca se encarrega de traduzir em palavras a emoção que insiste em não silenciar, percebemos que o amor vivido em plenitude não se extingue. Ele se multiplica. Assim, o carinho que um dia foi sentido em sua totalidade passa a pulsar em dobro naqueles que ficam; transformando a ausência em uma presença vibrante e inesgotável. Viver é, antes de tudo, carregar os vestígios de quem amamos. Não se trata de abandonar a vida, mas de vivê-la intensamente, com os sentimentos redobrados. Cada memória se faz presente, cada riso, cada lágrima, reverberam como notas numa sinfonia inacabada que embala o coraç...

Sobre Renascimentos e Mortes

“Enquanto uns estão ocupados nascendo, outros estão ocupados morrendo” ( Bob Dylan).Mas, e se nascermos e morrermos muitas vezes dentro da mesma vida? E se cada instante for um limiar entre o fim e o começo, um interlúdio entre despedidas e recomeços? Somos feitos de ciclos, de pequenas mortes e renascimentos silenciosos. Morremos quando abandonamos uma crença antiga, quando soltamos as mãos que já não seguram as nossas, quando as velhas roupas do passado já não nos servem mais. Morremos quando os sonhos se despedem, quando as esperanças mudam de forma, quando o olhar no espelho já não reconhece quem éramos ontem. Mas, ao mesmo tempo, renascemos. No instante em que descobrimos uma nova verdade, quando encontramos novos caminhos, quando o coração pulsa por algo que antes não existia. Renascemos ao rir depois de um longo pranto, ao abrir os olhos para uma manhã que parecia impossível, ao respirar fundo e perceber que, apesar de tudo, seguimos aqui. Há um jogo cósmico entre essas mortes e...

Na Escuridão da Minha Noite e Na Claridade do Meu Dia

 Na claridade do dia, ela veste sua armadura. Caminha ereta, fala firme, responde às perguntas com um sorriso breve. Aos olhos do mundo, continua em pé, resistente. A vida segue, dizem. E ela segue junto, passo a passo, sem que percebam o peso invisível que carrega. A força não é escolha, é necessidade. O sol ilumina seu rosto, mas não alcança as sombras que traz no peito. Durante o dia, cumpre suas obrigações, ergue a cabeça, encontra coragem onde antes havia medo. Mas a noite... ah, a noite é um território sem defesa. Quando o silêncio invade a casa, a ausência grita. É na escuridão que a dor se desenlaça do peito, escorre pelos olhos, treme nas mãos vazias. Ela se entrega, sem resistência. Não há força que sustente o que precisa desabar. Na noite, ela é a mulher que chora, que sente, que revive cada riso, cada toque, cada despedida. Mas ao amanhecer, recolhe os cacos e os guarda no fundo da alma, onde ninguém pode ver. Porque amanhã haverá sol outra vez, e ela precisará ca...

As Puxadas de Tapete da Vida

 Há puxadas de tapete que vêm de onde menos esperamos. Às vezes, das pessoas que considerávamos amigas, colegas, parceiros de jornada. Essas, por mais dolorosas que sejam, conseguimos decifrar, ainda que a duras penas. Traições, invejas, disputas mesquinhas – tudo faz parte da cartilha humana e, com o tempo, aprendemos a lidar. Ora com um perdão, ora com um afastamento silencioso e definitivo. São dores que podem ser compreendidas e, de alguma forma, superadas. Mas há outro tipo de puxada de tapete, aquela que vem da própria vida, sem aviso, sem lógica aparente. Essa nos lança no chão sem sequer termos tido tempo de erguer as mãos em defesa. Um luto inesperado, uma doença devastadora, a perda de um sonho construído com zelo e esperança. Essas são as quedas que nos perguntam, sem piedade: e agora? O que fazer quando não há um culpado a quem apontar o dedo, quando o motivo da nossa dor está simplesmente nas engrenagens misteriosas do existir? A grande questão é: temos escolha dia...

Escutando o Silêncio

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A casa de madeira do século passado erguia-se no alto de um pequeno morro, ladeada por árvores antigas que guardavam segredos em suas copas robustas. O casario, com seu sótão que sussurrava memórias e um porão que exalava mistério, parecia respirar em silêncio. As janelas de vidros ondulados refletiam ora o sol, ora a melancolia do entardecer, criando jogos de luz que dançavam pelas paredes internas. Ali vivia um casal de meia-idade, sem filhos, envoltos em uma rotina onde as palavras haviam aprendido a se aquietar. Ela, professora de artes, tinha as mãos manchadas de tinta e o olhar que enxergava poesia nas formas mais banais. Ele, professor de literatura, era um colecionador de palavras, mas as guardava para as aulas, onde suas ideias ganhavam vida. Em casa, o silêncio reinava como um visitante constante, não imposto, mas acolhido. Os dois costumavam dividir o mesmo espaço em cumplicidade muda. Ela sentava-se perto da janela da sala, pincelando telas com cores que refletiam suas emoç...

Você é Meu Lar

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A tempestade rugia do lado de fora, fazendo as janelas da casa antiga tremerem. O vento passava pelos vãos das madeiras envelhecidas, carregando o cheiro acre da terra molhada. Dentro, na sala em penumbra, Helena observava o relógio na parede. Cada segundo parecia uma provocação, como se o tempo zombasse de sua solidão. Desde que Rafael partira, os dias tornaram-se mais longos e as noites, um castigo. A casa, antes cheia de vida, agora parecia uma moldura oca. Não era apenas a ausência física dele; era a presença constante da falta. Rafael, seu companheiro de vida, havia partido há meses. Não para uma viagem. Não para um novo lar. Ele simplesmente deixara este mundo. Mesmo assim, Helena sabia que ele estava ali. Sentia-o no ar, no cheiro amadeirado do cachecol pendurado atrás da porta. O vazio era preenchido por fragmentos de presença que insistiam em não se dissipar. Ela puxou os joelhos para junto do corpo, tentando aquecer-se com o próprio abraço. A tempestade lá fora era apenas mai...

Um Único Beijo

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A cidade pulsava em cores e música. O Carnaval arrastava foliões pelas ruas como uma maré indomável de brilho e fantasia. Entre confetes e serpentinas, corpos dançavam em êxtase, sorrisos se misturavam à melodia e os pés pareciam flutuar sobre o asfalto quente. Ela caminhava devagar entre a multidão, seu corpo envolto em uma fantasia etérea, um vestido leve que se movia com a brisa salgada. No rosto, uma máscara dourada ocultava mais que sua identidade; escondia a melancolia que seus olhos não conseguiam disfarçar. Não estava ali para festejar, mas para se perder, para se dissolver entre os desconhecidos e a alegria alheia. A máscara era sua proteção, um escudo contra perguntas, contra olhares curiosos. Ele vinha na direção oposta, disperso, alheio ao frenesi ao redor. Sua alma carregava um peso invisível, mas que tornava seus passos lentos. Nada ali o tocava, nem a música, nem os risos, nem os corpos brilhantes de suor e purpurina. Seu destino era incerto, sua vontade era seguir sem r...

Nós!

Nós. Uma palavra tão pequena e, ao mesmo tempo, tão vasta. Enlace, embaraço, vínculo. Representação da soma de dois que se arriscam na travessia um do outro. No começo, tudo era descoberta. O fascínio pelo desconhecido, a surpresa nas pequenas revelações, a pele que arrepiava ao menor contato. Os olhos buscavam nos gestos sinais de encanto, os corpos se encontravam na ânsia de se reconhecerem. O tempo corria feito criança solta no campo, sem freios, sem pressa de chegar a lugar nenhum. Mas o encanto, como se sabe, tem seu próprio ritmo. E então veio o tempo de enxergar o outro não como projeção, mas como ser. As diferenças, antes traços exóticos de um mapa novo, tornaram-se pequenos abismos a serem cruzados. A maneira como um falava, como o outro calava. O silêncio que dizia muito, o excesso de palavras que abafava o essencial. Houve dias de tempestade, palavras afiadas que cortavam o ar, ausências que gritavam mais do que presenças. Houve também a calmaria, o perdão sem alarde, ...

O Sentido da Existência: Memória, Legado e Efemeridade

Vivemos sabendo que um dia deixaremos de existir. Esse é o paradoxo da condição humana: construímos, lutamos, amamos e sofremos, mesmo sabendo que tudo, inevitavelmente, terá um fim. Quando olhamos para a brevidade da vida e a fugacidade da memória, surge a pergunta que atormenta filósofos há séculos: qual o sentido de tudo isso? Se nossa lembrança se apaga poucas gerações depois de partirmos, por que nos esforçamos tanto? Por que nos angustiamos com problemas diários, buscamos conquistas e nutrimos sonhos? Para que tanto trabalho e cansaço se, no final, seremos apenas poeira esquecida pelo tempo? A resposta talvez não esteja na permanência, mas na experiência. O valor da vida não se mede pela duração de nossa lembrança nos outros, mas pela intensidade com que a vivemos enquanto aqui estamos. A história nos ensina que pouquíssimos nomes resistem ao tempo. A maioria de nós não será lembrada dentro de dois séculos, assim como nós mesmos esquecemos os rostos e as vozes de antepassad...

O Que Nos Resta Diante da Ausência

 Diante da falta, nos resta a memória. Mas a memória pode ser traiçoeira. Às vezes, ela nos puxa para os últimos momentos de alguém, para a dor da despedida, para o vazio que se instalou quando percebemos que não haveria mais um reencontro. Mas também há outra forma de lembrar: podemos escolher focar no que foi bonito, no que foi intenso, no que fez valer a pena ter compartilhado a vida com aquela pessoa. É um processo, e nem sempre é fácil. No começo, a saudade dói como uma ferida aberta, cada lembrança é um corte, um sopro gelado na alma. Com o tempo – e é preciso tempo – aprendemos a transformar essa dor em algo mais brando, mais doce, mais sereno. Deixamos de querer voltar desesperadamente ao passado para entender que levamos esse passado dentro de nós, na forma de histórias, de gestos, de ensinamentos. Quem amamos nunca vai embora completamente. Ficamos com os cheiros, com as expressões, com os detalhes miúdos do cotidiano que, de repente, se tornam sagrados. Um café na xí...

Coragem: Um Substantivo Feminino

  Coragem! Não é por acaso que essa palavra veste o feminino. Não por um viés ideológico ou por necessidade de rótulos, mas porque, no cotidiano, no silêncio das horas e na sobrecarga das demandas, ela se manifesta nas mulheres de maneira tão natural quanto a própria respiração. Mulher é múltipla. Não porque escolheu ser, mas porque o mundo exige. Hoje mesmo, ao caminhar, observei mulheres em ação, simultaneamente desempenhando papéis que se sobrepõem sem se anular. Uma mãe no parque, empurrando o balanço do filho com uma mão, enquanto a outra segurava o telefone, dando instruções para sua equipe. Uma ajudante doméstica que, possivelmente, deixou os próprios filhos em casa sob os cuidados de outra mulher, enquanto cuidava de uma senhora que, certamente, em outra época, também precisou de coragem para garantir o sustento. Mulheres coordenando, mediando, resolvendo. Mulheres equilibrando tudo sem deixar nada cair. E, quando cai, há sempre um jeito de recolher os cacos e seguir. ...

Te Amo, Amor

— Amor, você quer...? — Quer o quê...? — Ora, o quê...? — Pode até ser... — Como assim...? Pode ser...? — E você, quer...? — Eu perguntei primeiro, Clarice Maria... — Aham, aham... — Como assim, "aham, aham"? Tá de deboche pra cima de mim...? — Muito papo, José Rodolfo! Acho que você é quem não quer! — Como eu não quero, se fui eu quem perguntou primeiro? — Tá bem, José Rodolfo, você perguntou primeiro. E daí...? Vai criar caso por tão pouco...? — Como assim, "tão pouco", Clarice Maria? Estamos falando da nossa vida conjugal! Nossa conversa vai terminar assim, nesse vai-não-vai...? — José Rodolfo, não enrola! Se você quisesse mesmo, chegaria. — Não desconversa, Clarice Maria! Confessa que não queria! Que iria estragar o cabelo com bobes, esse monte de creme... anti-age, anti-aquilo... — Se eu chegasse? Até parece... — Tá bom, José Rodolfo, você ganhou. Agora apague a luz e vamos dormir! — Te amo, amor. — Também te amo, amor. Silvia Marchiori Buss ...

O Sol e a Lua: Um Amor que Vive nas Entrelinhas do Tempo

 Diz a lenda que, desde o princípio dos tempos, o Sol e a Lua se amam. Um amor tão imenso que moldou o próprio ritmo do mundo, mas que, por um capricho do destino, nunca pode se tocar. O Sol nasce cedo, abrindo o céu em tons de ouro, espalhando luz e calor. Ele olha para o horizonte, esperando um vislumbre de sua amada Lua. Mas ela, vestida de prata, só acorda quando ele já se despediu. Atravessam o mesmo céu, percorrem os mesmos caminhos, mas sempre à distância, como versos de um poema que nunca rimam. E ainda assim, amam-se. Ele aquece os dias dela, mesmo sem poder senti-la. Ela ilumina suas noites, mesmo quando ele já se foi. Um amor que não precisa do toque para existir, que sobrevive na certeza de que um pertence ao outro, ainda que seus destinos nunca se entrelacem completamente. Mas há momentos raros – aqueles instantes mágicos em que o mundo segura a respiração. São os eclipses, quando Sol e Lua finalmente se encontram. Por poucos segundos, seus corpos se alinham, s...

Sem Correntes nem Amarras

A vida não foi feita para ser uma cela, nem uma gaiola dourada. No fundo, sabemos que nascemos para o movimento, para o vento no rosto, para os passos livres por caminhos escolhidos sem medo. No entanto, muitas vezes nos deixamos acorrentar: por expectativas alheias, por padrões impostos, por regras que não fazem sentido para o que pulsa dentro de nós. A liberdade verdadeira não é apenas a ausência de grades visíveis. Ela mora na coragem de ser quem se é, de dizer "sim" ao que faz sentido e "não" ao que nos aperta a alma. Está na leveza de desapegar do que não soma, de largar os pesos que nos ensinaram a carregar sem questionar. Viver sem amarras significa permitir-se mudar de ideia, errar e recomeçar. É saber que não há um único caminho certo, mas muitos que se entrelaçam, que se descobrem à medida que seguimos adiante. É não se prender ao passado nem temer o futuro, mas mergulhar no presente com toda a intensidade que ele merece. A liberdade está na escolha ...

Afinal, qual é o sentido da vida

Essa é uma pergunta que atravessa os séculos, instigando mentes, corações e almas. Filósofos, cientistas, religiosos e artistas já tentaram responder, cada um de sua forma, refletindo sobre a essência da existência humana. Talvez, porém, não haja uma resposta única ou universal. O sentido da vida pode não ser algo dado, mas algo que criamos ao longo de nossa jornada. Para alguns, o sentido da vida está em amar e ser amado. É na conexão com os outros que encontram um propósito, seja através de laços familiares, amizades ou relacionamentos românticos. Essa perspectiva nos lembra que somos seres sociais, que crescemos e florescemos na partilha, no cuidado e na empatia. Outros veem o sentido da vida na busca pelo conhecimento. A exploração dos mistérios do universo, da natureza e da própria mente humana proporciona um senso de maravilhamento e descobrimento. Para esses, é a curiosidade que impulsiona a existência, revelando que cada resposta abre uma nova porta para mais perguntas. H...

A Vida em Cena

A vida é uma peça de teatro, mas nem sempre sabemos qual papel estamos representando. No início, talvez nos coloquem como protagonistas, sob os holofotes, carregando a história nas costas. Outras vezes, somos coadjuvantes, circulando nos bastidores, oferecendo falas que sustentam o enredo sem chamar atenção demais. E há momentos em que nos tornamos meros espectadores, assistindo ao desenrolar da trama como se ela não nos pertencesse. O problema é que a peça não tem roteiro fixo. A cada ato, os papéis mudam, os cenários se transformam, e a gente, sem perceber, pode se perder na confusão. Um dia, entramos no palco com a certeza de que dominamos o papel principal e, no outro, tropeçamos na cena, esquecemos a fala, olhamos para os lados esperando alguma indicação de que estamos no lugar certo. Há também aqueles momentos em que saímos de cena por um tempo. Às vezes, por escolha própria; outras, porque a vida simplesmente nos empurra para fora do palco. Ficamos ali, na plateia, vendo os ...