Nada Mais

Ela caminhava devagar. O vestido leve, de linho cru, dançava ao ritmo do vento, como se o tempo não a quisesse apressar. Aos olhos de quem olhasse de fora — e quase ninguém olhava — parecia uma mulher comum: cabelos presos sem vaidade, sandálias gastas, um silêncio no rosto. Mas havia algo nela que a distinguia dos demais: a ausência de urgência. Não carregava sacolas nem planos. Não esperava ninguém. Desde que o último amor se desfez como névoa na manhã do outono passado, deixara de contar os dias. Ele partira sem estardalhaço, como tudo o que foi bonito e breve em sua vida. Não houve briga, nem promessa de volta. Apenas um olhar demorado na porta, um adeus sem som. Depois disso, ela acordava cedo, tomava chá de hibisco e ouvia a mesma canção de Gal Costa que embalava seus domingos com a mãe — “o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade…”. A cada manhã, algo nela se aquietava um pouco mais. Quando passava pela rua onde morou com o pai, via a casa já demolida e reconstruída em lin...