Deus Dorme
Deus dorme. E, nesse intervalo de sono profundo, os homens erguem muros onde antes havia pontes. Disparam palavras como quem dispara balas, crentes de que vencer um argumento é mais importante do que entender uma dor. Deus dorme – ou talvez apenas feche os olhos para não testemunhar o que fizemos de nós.
As cidades se tornaram ilhas. Os vizinhos, estranhos. As crianças, silenciadas por telas. E os adultos...os adultos aprenderam a sorrir sem levantar os olhos, a amar sem presença, a odiar com facilidade. Vivemos conectados, mas cada vez mais sozinhos.
Deus dorme enquanto alguém ignora o grito abafado da mulher na escada, enquanto uma idosa morre de fome diante da TV ligada, enquanto um jovem com olhos cheios de sonhos apaga seu próprio nome por não caber em lugar nenhum.
Dormimos também. E nesse sono social, deixamos escapar o essencial: o outro.
A compaixão virou fraqueza. O cuidado, perda de tempo. O tempo...esse corre tao rápido que esquecemos como se olha nos olhos com calma.
Deus dorme. E nós, arrogantes, achamos que não precisamos d’Ele – não esse Deus das religiões, mas o Deus que habita o gesto de segurar uma mão, que se deita na sombra de uma árvore, que mora no riso espontâneo, no perdão não declarado, na partilha sem foto.
A humanidade, embriagada de razão e vaidade, se desfaz em pequenas crueldades cotidianas. E talvez Deus durma justamente porque confiou que saberíamos cuidar uns dos outros.
Mas falhamos.
Todos os dias, um pouco mais.
E, enquanto isso, Deus dorme.
Esperando – quem sabe- por um gesto simples.
Um respiro de gentileza.
Um silêncio que não seja indiferença, mas escuta.
Um abraço que desperte.
Porque talvez, só talvez...
Deus não tenha nos abandonado.
Apenas cansou.
Silvia Marchiori Buss
As cidades se tornaram ilhas. Os vizinhos, estranhos. As crianças, silenciadas por telas. E os adultos...os adultos aprenderam a sorrir sem levantar os olhos, a amar sem presença, a odiar com facilidade. Vivemos conectados, mas cada vez mais sozinhos.
Deus dorme enquanto alguém ignora o grito abafado da mulher na escada, enquanto uma idosa morre de fome diante da TV ligada, enquanto um jovem com olhos cheios de sonhos apaga seu próprio nome por não caber em lugar nenhum.
Dormimos também. E nesse sono social, deixamos escapar o essencial: o outro.
A compaixão virou fraqueza. O cuidado, perda de tempo. O tempo...esse corre tao rápido que esquecemos como se olha nos olhos com calma.
Deus dorme. E nós, arrogantes, achamos que não precisamos d’Ele – não esse Deus das religiões, mas o Deus que habita o gesto de segurar uma mão, que se deita na sombra de uma árvore, que mora no riso espontâneo, no perdão não declarado, na partilha sem foto.
A humanidade, embriagada de razão e vaidade, se desfaz em pequenas crueldades cotidianas. E talvez Deus durma justamente porque confiou que saberíamos cuidar uns dos outros.
Mas falhamos.
Todos os dias, um pouco mais.
E, enquanto isso, Deus dorme.
Esperando – quem sabe- por um gesto simples.
Um respiro de gentileza.
Um silêncio que não seja indiferença, mas escuta.
Um abraço que desperte.
Porque talvez, só talvez...
Deus não tenha nos abandonado.
Apenas cansou.
Silvia Marchiori Buss
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