Mais Uma Semana Sem Ele

Era segunda-feira. Mais uma.

Ela olhou o calendário como quem encara um inimigo antigo: o tempo. Ele não parava, não perguntava, não acolhia. Apenas seguia — teimoso, indiferente, inteiro. E ela, quebrada, tentando sobreviver a mais uma semana sem ele.

Na cidade, tudo parecia funcionar normalmente: ônibus passando, gente apressada, o pão quente na padaria da esquina, a vizinha falando alto no telefone. O mundo não parou porque ele se foi. Só ela ficou suspensa, como uma fotografia antiga num porta-retrato esquecido.

Fazia dias que não ouvia seu nome em voz alta. Ninguém ousava. Mas dentro dela, era repetido em silêncio: a cada respiração mais curta, a cada tentativa falha de dormir sem lembrá-lo, a cada manhã que nascia sem o café do seu sorriso.

Ele era abrigo. E era também vento — daqueles que empurram pra frente. Com ele, ela tinha vontades: de mudar, de melhorar, de rir alto, de aprender a cozinhar pratos difíceis, de usar vestidos coloridos. Sem ele, a vida parecia desenhada a lápis.

Toda semana, ela dizia: “Essa vai ser menos difícil.” E toda semana, se traía. Porque não era. Porque a ausência dele tinha um peso mudo, que não fazia barulho, mas empurrava os ombros, dobrava os joelhos, apagava os brilhos.

Mesmo assim, ela ia. Não por força, mas por teimosia. Porque era isso que ele sempre admirou nela: a coragem de ser frágil, mas seguir em frente.

E então, à noite, quando tudo silenciava e o mundo lá fora parava de exigir, ela se permitia a verdade. Encostava a cabeça no travesseiro e, num sussurro, confessava:
— Mais uma semana sem você… e ainda não sei como fiz isso.

Mas fez. E faria de novo. Porque o amor que ele deixou — mesmo na ausência — ainda era o que a movia.

Ela só queria que ele soubesse.

Silvia Marchiori Buss

 

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