Todo o Dia é Dia...
Todo dia é dia. Parece óbvio, mas não é. Nem todo mundo acorda disposto a habitar o próprio tempo. Há dias em que a gente só sobrevive, outros em que se inventa, e ainda aqueles em que simplesmente... resiste. Mas o mundo não pergunta se estamos prontos. Ele gira, exige, muda as regras no meio do jogo. E é nesse giro que se esconde a urgência silenciosa: reinventar-se.
Reinvenção
não tem idade. É um verbo que não se curva diante dos calendários. É movimento
íntimo. Para alguns, começa ao acordar e calçar sapatos que não doem. Para
outros, se revela ao aprender a usar um aplicativo novo, ao aceitar que os
filhos já sabem mais do que a gente, ao admitir que certas coisas não cabem
mais – nem no corpo, nem no coração.
Ser
jovem, hoje, é quase uma performance: adaptar-se rápido, engolir novidades,
trocar de pele antes mesmo de entender a anterior. Mas quem vive o “entardecer
da vida” conhece outro ritmo. Reinventar-se ali não é correr, é escolher. Não é
gritar por espaço, é esculpir silêncio onde antes havia ruído. É saber que não
se precisa provar nada para ninguém — mas que ainda há tanto a descobrir de si.
A
cada dia, alguma coisa acontece. Boa ou ruim. Pequena ou definitiva. Um
telefonema, uma ausência, uma notícia que muda tudo, ou simplesmente uma nuvem
que passa devagar demais, e nos obriga a olhar. O susto e a beleza da vida é
essa imprevisibilidade constante. Nada garante que teremos tempo depois. Por
isso, cada dia é também um convite: e se hoje eu me reinventasse um pouco?
Talvez
não seja preciso mudar o mundo, apenas mudar o modo de pisar nele. Um pouco
mais leve, um pouco mais verdadeiro com menos exigência. E se, no fim, tudo o
que nos couber for apenas isso – um pouco por dia, todo dia – então que seja o
bastante.
Porque
todo dia é dia. E se é dia... então é dia de ser.
Silvia
Marchiori Buss
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