O Nosso Amor a Gente Inventa
O nosso amor não mora no mesmo lugar que os amores comuns. Ele não precisa de agenda, de testemunha, de fotografia em porta-retrato. O nosso amor — esse que a gente inventa — nasce do que falta e se alimenta do que ainda pode ser.
Há dias em que uma parede nos
separa. Em outros, é um oceano. Às vezes, nem sabemos dizer o que está no meio
— talvez seja só o tempo, talvez o medo, talvez o mundo inteiro entre o céu e a
terra. Mas, ainda assim, a gente se encontra.
A ausência, em nós, não é
buraco: é ponte. E a saudade não é pena, é poesia. Enquanto tantos medem o amor
por presenças físicas, nós contamos pelos silêncios compartilhados, pelas
mensagens não enviadas mas sentidas, pelos pensamentos que chegam antes da
fala.
Você não está aqui. E, no
entanto, está.
Está quando o vento toca a
cortina e eu lembro do teu riso. Está quando ouço uma música que nunca ouvimos
juntos, mas que juraria ter a tua marca. Está na hora exata em que meu peito
aperta, e eu sei — com uma certeza sem explicação — que você também pensou em
mim.
O nosso amor não se explica.
Não segue mapa, não obedece a leis de espaço e tempo. Talvez por isso tenha
durado mais do que os outros.
Porque o nosso amor, a gente
não espera.
A gente inventa.
Todos os dias.
Mesmo distantes.
Mesmo sem saber quando, ou se, o encontro virá.
E é nessa reinvenção constante
— nesse laço invisível, nessa dança entre o possível e o imaginado — que
seguimos: você em sua parte do mundo, eu na minha, e nós dois no intervalo
entre uma estrela e um suspiro.
Silvia Marchiori Buss
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