Que a Gente Vença o Hoje

Nem sempre é sobre grandes batalhas. Às vezes, é só sobre conseguir levantar da cama depois de uma noite mal dormida, com a cabeça cheia e a alma meio desalinhada. Sobre preparar o café com a luz apagada, porque ainda não se está pronto para encarar o dia, nem a própria cara no espelho.

A vida, em sua versão mais realista, não se parece com os discursos de motivação que viralizam por aí. Ela tem mais cara de fila de banco, de e-mail acumulado, de boleto vencido, de reunião que cansa antes mesmo de começar. A vida, essa que vivemos todos os dias, é feita de cansaços acumulados, pequenas alegrias, engasgos não ditos e um bocado de resiliência escondida atrás de sorrisos que a gente veste pra continuar.

Há dias em que o tapete parece ser puxado de propósito. E não por um vilão de novela, mas por alguém sorridente do outro lado da mesa, por quem devia estar do seu lado ou, pior, por quem nem sabe o quanto o feriu. Às vezes, o leão não ruge — ele se disfarça de obrigação, de cobrança velada, de injustiça bem articulada. E a gente precisa ir lá, com o que tem de coragem naquele dia, e encarar.

A maioria de nós não está em busca de glória, mas de paz. Paz para pagar as contas sem medo, para dormir com a consciência tranquila, para saber que nossos filhos estão seguros, que nossos afetos estão vivos, que nossos limites estão sendo respeitados.

Por isso, quando alguém diz: “é preciso matar um leão por dia”, nem sempre está falando de heroísmo. Às vezes, é só sobre dizer "não" quando tudo empurra para o "sim". É sobre silenciar diante da provocação. Sobre não se deixar endurecer depois de mais uma decepção.

Tem dias que tudo o que se espera da gente é que a gente continue. Mesmo arranhado, mesmo cansado, mesmo descrente.

E se hoje for um desses dias difíceis — daqueles que parecem feitos sob medida para testar a nossa fé na humanidade — que a gente vença. Nem que seja aos pedaços.

Que a gente vença o hoje.
Só isso. Porque amanhã…
Amanhã a gente vê.

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Silvia Marchiori Buss

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