As Gavetas da Vida
A vida pode ser comparada a uma cômoda de madeira cheia de surpresas, que nos acompanha por anos: silenciosa, resistente, marcada por arranhões que o tempo fez questão de deixar à mostra. Dentro dela, guardamos tudo: memórias, medos, cartas que nunca enviamos, desejos que um dia tivemos coragem de confessar apenas a nós mesmos. E, como qualquer móvel antigo, há gavetas que deslizam com facilidade… e outras que exigem força, paciência ou até coragem para abrir. Algumas se abrem quase sozinhas. Basta um cheiro, uma música, uma tarde nublada, e pronto: a gaveta da infância se escancara. De lá, saltam risos antigos, vozes que já não ouvimos mais, um par de sapatos minúsculos, uma figurinha colada num caderno. A nostalgia é rápida e gentil — vem, nos toca os ombros e parte sem exigir demais. Mas há aquelas outras... as que rangem, emperram, que parecem coladas com uma cola invisível. São gavetas que guardam perdas, escolhas difíceis, o nome de alguém que nunca dissemos em voz alta. Quan...