Bom Dia, Como Você Está?

A pergunta caiu como folha sobre a mesa da varanda. Nem vento havia, mas lá estava ela: pousada, serena, quase absurda na sua ternura tardia. Ele a leu em voz baixa, como quem testa a delicadeza do mundo com a ponta da língua, como quem precisa aquecer a alma antes de permitir que qualquer palavra se instale no peito. Mas não havia ninguém diante dele. Apenas a xícara morna de café, o jornal esquecido desde a semana passada, e o céu — azul feito lembrança. Chamava-se Miguel, mas quase ninguém o chamava assim. Para uns era “seu Migue”, para outros apenas “vizinho do 32”. Fazia tempo que o nome completo não soava em voz alta, como se os anos tivessem desgastado também a intimidade das palavras. Havia uma solidão antiga nele, daquelas que não nascem de perdas abruptas, mas do lento esvaziar dos dias. A casa seguia a mesma — as plantas, o relógio da cozinha, o sofá afundado no lado esquerdo —, mas o tempo ali parecia andar de lado, como se evitasse encará-lo de frente. Recebera o bilhete e...