Aos Amores Que Já Se Foram
Alguns amores não acabam. Apenas se recolhem. Feito ondas que voltam para o fundo do mar sem aviso — depois de tocar a areia com tanta fúria, com tanta entrega. Não há manual que nos ensine a lidar com a ausência do que foi inteiro. Há apenas o silêncio. E ele costuma chegar antes da compreensão. Tivemos amores que pareceram eternos. Amores que nos fizeram reinventar os dias, mudar o rumo das horas, refazer planos com as mãos trêmulas de quem acredita. Eram amores de alma, de corpo, de pele que reconhece pele. Mas a vida — esse rio inquieto — às vezes muda de curso sem perguntar se sabemos nadar. Alguns se foram pela morte. Outros, pela vida que virou outra. Sem traições cinematográficas, sem mágoas de novela. Foram atravessados pelo tempo, pelo cansaço, por distâncias que não cabem no mapa, mas se instalam no coração. E também por perdas que não deixam rastros no chão, apenas no peito. Eles existiram. Amaram e foram amados. E isso deveria bastar. Mas nem sempre ...