A Última Viagem
Acordei sobressaltada, o coração batendo como um pássaro preso em gaiola. O peito arfava como se tivesse corrido um longo caminho, mas meus pés estavam imóveis sob os lençóis. O suor frio na nuca, os dedos tremendo levemente enquanto buscavam, no escuro, o contorno familiar do teu corpo ao meu lado. Mas não estavas. A cama parecia imensa, vazia de ti, como se o colchão tivesse se expandido num território sem fronteiras. Estendi a mão pelo lençol ainda morno, a esperança tola de que talvez tivesses apenas se virado de lado, perdido em sonhos. Mas a curva do teu ombro, o peso da tua respiração, o calor do teu corpo — nada estava ali. Olhei ao redor. O quarto estava mergulhado em sombras densas, sufocantes. A janela quadrada não deixava passar um fio de luz, apenas um vazio cinzento e mudo. Nem a lua, nem as estrelas, nem mesmo o reflexo da rua lá fora. Era como se o mundo inteiro tivesse se fechado contigo. Meu amor, onde estás? Foi então que lembrei. Tu partiste. Para a tua última viage...