Sorriso de Marta

Na cidade de Áurea do Norte, Marta Resendes era o tipo de mulher que sabia tudo sobre tudo — e um pouco mais. A enciclopédia ambulante da cidade conhecia o passado das famílias, as traições encobertas, as fraudes nos comércios e até as senhas de Wi-Fi dos estabelecimentos locais. Em Áurea, ninguém sobrevivia sem passar, mais cedo ou mais tarde, pelo crivo de Marta. Aos 52 anos, ela não era rica, bonita ou simpática, mas tinha algo que poucos possuíam: o controle absoluto da informação. Como fazia todas as manhãs, Marta ocupava a mesa central da padaria, seu “escritório informal”. Ali, em meio ao aroma de pão fresco e café passado na hora, ela oferecia sua sabedoria como quem distribui bênçãos. — Marta, você sabe quem anda falando mal do meu filho na escola? — Dona Iraci perguntou, aflita, enquanto segurava seu pacote de sonhos. Marta ergueu os olhos do caderno de capa grossa, repleto de anotações indecifráveis, e com um amedrontador sorriso de canto de boca respondeu: — Iraci, querida,...